Autotransfusão: conheça a técnica que pode salvar vidas

Por Equipe Cardiomed •

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Fonte: Reprodução Freepik




A autotransfusão sanguínea é um processo, descrito em 1921, por Grant, que visa a retirada prévia de sangue de determinada pessoa, para uso próprio quando necessário. Anteriormente a Grant, ainda no início do século XIX, o médico Hohn Blundell foi um dos primeiros a praticar a autotransfusão em pacientes de obstetrícia, que apresentavam volumosa hemorragia pós-parto. Durante o mesmo século, outros utilizaram a técnica em casos de amputação com diferentes graus de sucesso

No ano de 1940, foram identificados diferentes tipos sanguíneos, elucidando a relação existente entre os tipos de sangue e as reações à transfusão. Deste modo, transfusão homóloga tornou-se popular, especialmente, durante a Segunda Guerra Mundial, e assim, a autotransfusão caiu no esquecimento. Todavia, no início da década de 80, a preocupação com as moléstias transmitidas por via hematógena, como a AIDS e a hepatite começou a aumentar, renovando o interesse pelas transfusões autólogas.

Após esses eventos, a valorização da recuperação e utilização do sangue do próprio paciente se tornou evidente. Dentre os benefícios do uso de recuperadores de sangue intra-operatórios estão: ausência de risco de reação transfusional, utilização de sangue mais fresco e funcional e a aceitação por questões religiosas (testemunhas de Jeová).

A técnica é também denominado transfusão autóloga,  já que o sangue do próprio paciente é reintroduzido em seus vasos sanguíneos. De modo contrário, nas transfusões sanguíneas convencionais, chamadas de transfusão homólogas,  são introduzidos nos pacientes sangue de outro indivíduo.

Existem diferentes tipos de autotransfusão, que podem ser agrupadas da seguinte forma:

  • Autotransfusões de emergência ou imediatas: reinfusão;
  • Autotransfusão de pré-depósito: programadas;

Explicamos mais detalhadamente abaixo cada um dos procedimentos.

Autotransfusões Imediatas – Reinfusão

Neste tipo de autotransfusão, o sangue vertido em uma hemorragia que o paciente venha a sofrer, tanto no período pré ou pós-operatório, é coletado através de diferentes meios e, subsequentemente, reintroduzido em sua veia. Esta se trata de uma autotransfusão emergencial, uma vez que, na maior parte das vezes, o paciente encontra-se altamente desprovido daquele volume de sangue perdido, sendo necessária sua reposição imediata. Esta prática comumente recebe o nome de reinfusão.

Indica-se este tipo de autotransfusão em procedimentos cirúrgicos de pacientes que apresentaram hemorragia prévia ou durante a própria cirurgia.

Autotransfusão de Pré-depósito

Esta técnica consiste na pré-coleta do sangue do paciente para que, em um momento posterior, o mesmo seja reintroduzido no paciente caso este necessite.

A programação deste tipo de autotransfusão é feita de duas formas:

Pré-coleta múltipla iniciada de 6 a 28 dias antes da data programada da cirurgia;

Pré-coleta imediata realizada dentro de 10 a 30 minutos antes do início do procedimento cirúrgico.

QUEM PODE FAZER A AUTOTRANSFUSÃO?

Qualquer indivíduo adulto no período de até 5 a 45 dias antes de cirurgia eletiva, que possua taxa de hemoglobina mínima de 11g/DL ou hematócrito de 34% (pacientes com idade inferior a 18 anos necessitam de autorização dos pais ou responsáveis)
Qualquer criança com peso acima de 50 kg com autorização dos pais, do médico assistente e do médico hemoterapeuta.

QUEM NÃO PODE FAZER?

  • Pacientes com menos de 11 g/DL de hemoglobina ou 34 % de hematócrito;
  • Pacientes febris;
  • Possibilidade ou suspeita de bacteremia e procedimentos odontológicos dentro de 72 horas antes da doação;
  • Angina, estenosse aórtica e suspeita leve de coronariopatia;
  • Portadores conhecidos de doenças transmissíveis pelo sangue (Sífilis,             Chagas, Hepatite B e C, HTLV1e2 e AIDS;
  • História de insuficiência cardíaca.
  • Pacientes que apresentam infecção ativa em tratamento ou em crise de bacteremia;
  • Hemoglobinopatias, síndromes falciformes e talassêmicas;
  • Afecções cardíacas;
  • Gestantes que apresentam quadro de hipertensão;
  • Epilepsias e síncopes;
  • Cirurgias de pequeno porte em que não exista probabilidade de utilização de hemocomponentes;
  • Pacientes que estejam fazendo uso de fármacos que possam causar reações adversas à doação ou que não possam ser suspensas.
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Fonte: Cardiosurgerypost.com




Como já exposto, há diversas vantagens na adoção da autotransfusão, reafirmamos as principais delas abaixo.

Segurança: a autotransfusão é segura e eficiente, pois reduz o risco de infecções, já que muitas vezes nem todas as infecções do sangue doado são detectadas; ela evita problemas de compatibilidade sanguínea, já que o sangue utilizado é do próprio paciente.

Disponibilidade: imediata disponibilidade do próprio sangue, já que em poucos minutos o sangue recuperado é processado e retornado ao paciente, mesmo para pacientes sensibilizados (presença de anticorpos) ou com tipos raros de sangue.

Bom custo-benefício: reduz a demanda por sangue doado e suas sorologias para doenças transmissíveis de alto custo, e consequentemente a utilização da autotransfusão tem custo inferior ao da transfusão com sangue estocado de bancos de sangue.

Respeito á individualidade humana: a autotransfusão não fere a fé dos indivíduos crente na doutrina das Testemunhas de Jeová a respeito de transfusões e doações de sangue, sendo uma opção válida para essa parcela da população.

Fonte: cardiosurgerypost.com




E COMO É FEITA A AUTOTRANSFUSÃO DURANTE UMA CIRURGIA?

A Recuperação Intra-operatória de sangue é feita por meio de um equipamento automatizado de autotransfusão específico para este fim. O sangue é aspirado do campo cirúrgico e enviado para a máquina onde são recuperados e concentrados os glóbulos vermelhos (componente mais importante de sangue: células responsáveis por levar oxigênio aos tecidos). O sangue recuperado é então automaticamente lavado para eliminar fragmentos de células rompidas, substâncias nocivas presentes no plasma, fármacos e o anticoagulante que precisa ser utilizado para utilização do equipamento. Após a lavagem, o sangue está pronto para ser reinfundido no paciente.

Ciclo do Processamento do Sangue

Aspiração: o sangue é aspirado do campo cirúrgico, simultaneamente misturado à solução de anticoagulante e estocado temporariamente no reservatório.

Preenchimento / Prime: o sangue é bombeado do reservatório para o bowl (recipiente de centrifugação). Os componentes do sangue são separados, as hemácias são concentradas e o sobrenadante é descartado.

Lavagem / Wash: lavagem das hemácias com soro fisiológico. Eliminação de fatores de coagulação ativados, hemoglobina livre no plasma, contaminantes, debris etc.

Esvaziamento / Empty: envio do concentrado de hemácias lavadas do bowl para a bolsa de reinfusão.

Reinfusão: o  sangue que foi encaminhado a essa bolsa é transfundida na sala cirúrgica, repondo assim, a massa eritrocitária do paciente.

A Cardiomed comercializa o CAT SMART, da Fresenius Kabi. O CAT Smart é o único equipamento para autotransfusão contínua que funciona segundo o princípio da centrífuga de fluxo contínuo, comparável aos sistemas contínuos para hemaférese, que há décadas são amplamente utilizados nos bancos de sangue.

Fontes:

cardiosurgerypost.com/single-post/autotransfusao-intra-operatoria

famema.br/hemocentro/autotransfusao.htm

portalhospitaisbrasil.com.br/autotransfusao-e-a-forma-mais-segura-para-quem-precisa-de-sangue-durante-cirurgia/

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